As redes sociais afetam negativamente a saúde mental de 45% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos, segundo pesquisa divulgada no fim do ano passado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel. Sem regulação adequada, essas plataformas também se tornaram terreno fértil para a propagação de discursos de ódio, crimes e desafios perigosos que já causaram a morte de crianças.
Em resposta a esse cenário, a campanha 24 horas sem Redes Sociais – Greve das Redes, liderada pela psicanalista Vera Iaconelli e pelo designer e ativista Pedro Inoue, propõe uma “pausa” no uso de redes sociais por 24 horas, a partir da meia-noite desta segunda-feira (21). Inoue é diretor criativo da organização canadense Adbusters, conhecida por movimentos de crítica à cultura digital, e Vera é mestra e doutora formada pela Universidade de São Paulo (USP).
“O conteúdo das redes é produzido por nós, os usuários. Mas ele é impulsionado por algoritmos viciantes, pensados para capturar nossa atenção e gerar lucro – às custas do nosso bem-estar. Somos explorados e dependentes dessas plataformas para nos informar, comunicar, trabalhar e existir socialmente. Mas temos um poder: parar”, escreveu Vera em seu perfil no Instagram.
Na mesma publicação, a psicanalista defende que, se a sociedade quiser mudar o futuro, precisa agir com mais firmeza e lutar pela regulação das redes sociais e de seus modelos de negócio – que, segundo ela, “distorcem a subjetividade, alimentam o ódio e incitam a violência”.
Morte e série da Netflix
O debate sobre a regulação e os problemas da exposição excessiva às plataformas ganharam força após a série Adolescência, lançada pela Netflix em março. Na trama, um adolescente de 13 anos comete um crime após ser influenciado por discursos de ódio contra mulheres propagados nas redes sociais.
Nesta semana, a morte de Sarah Raissa Pereira de Castro, de 8 anos, que inalou desodorante como parte de um “desafio” viralizado no TikTok, também esquentou a discussão. A primeira-dama Janja Lula da Silva afirmou que a criança “morreu devido a um desafio ignorante feito pelas redes sociais” e defendeu que é preciso “repensar o mundo que estamos construindo”.
Além de desafios, a internet também vem sendo usada por adultos para combinar crimes. A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério da Justiça e Segurança Pública realizaram neste domingo de Páscoa uma operação para desmantelar uma organização criminosa que planejava assassinar um morador de rua e transmitir o crime pela internet.
“Os agentes [investigadores] apuraram a existência de uma rede de jovens que utilizavam a plataforma Discord para realizar e divulgar atrocidades, como maus-tratos a animais, indução à automutilação, estupro virtual, racismo e incitação ao crime, como forma de “entretenimento””, afirmou a Polícia Civil, acrescentando também que o grupo promovia ataques digitais de ódio contra negros, mulheres e adolescentes, “com graves consequências no mundo real”.
Redes sociais sem checagem
Lucas Gabriel Marins www.infomoney.com.br
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