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O Peso das Dívidas e a Saúde Mental: Um Alerta no Mês do Setembro Amarelo

 

Por Libia López

O mês de setembro é marcado pelo Setembro Amarelo, uma campanha nacional de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Este tema ganha especial relevância no Brasil, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Entre os muitos fatores que levam ao sofrimento emocional extremo, as dificuldades financeiras, especialmente as dívidas, têm se tornado um ponto crítico para a saúde mental de muitos brasileiros.

O impacto das dívidas na vida de uma pessoa não se limita apenas ao aspecto financeiro. O endividamento pode levar a uma sensação de perda de controle sobre a própria vida, provocando sentimentos de preocupação, vergonha, ansiedade, estresse crônico e, em casos extremos, pensamentos suicidas. Quando uma pessoa se sente incapaz de pagar suas contas e vê suas opções de alívio diminuírem, isso pode gerar um profundo desespero. Mas como essa questão financeira pode afetar a saúde mental a ponto de levar a uma crise tão grave? Quais são os sinais de alerta? E o que pode ser feito para prevenir o pior?



O Ponto Crítico da Saúde Mental

O ciclo de endividamento pode se transformar em um círculo vicioso de ansiedade, insônia e isolamento social. Muitas pessoas que enfrentam dificuldades financeiras relatam que sentem uma pressão constante, como se estivessem sempre com um peso insuportável nos ombros. Esse tipo de pressão mental pode evoluir para sintomas mais graves, como depressão, ataques de pânico e, em última instância, pensamentos suicidas.

Segundo a psicóloga Camila Mendes, especialista em saúde mental e finanças, a relação entre dívidas e a saúde mental é direta: “As dívidas podem gerar um sentimento de desamparo muito profundo. A pessoa começa a duvidar de sua capacidade de recuperação e, aos poucos, perde a esperança. Quando o endividamento persiste por um longo período, a percepção de incapacidade para resolver o problema se agrava, e a pessoa passa a acreditar que não há saída, o que pode levá-la a considerar opções drásticas”.

Mendes ressalta que o impacto emocional é maior em pessoas que já enfrentam outras formas de vulnerabilidade, como problemas de saúde mental pré-existentes, desemprego ou dificuldades familiares. “A combinação desses fatores pode acelerar o desenvolvimento de uma crise mental, especialmente em um ambiente onde não há apoio psicológico ou uma rede de segurança social adequada”, acrescenta.



Quando as Dívidas Parecem Incontroláveis

Para muitas pessoas, a dívida é mais do que apenas uma preocupação financeira; ela se torna uma presença constante que ocupa a mente dia e noite. Carlos Nunez, de 38 anos, compartilhou sua experiência de luta contra o endividamento. Ele conta que, após perder o emprego durante a pandemia de COVID-19, começou a contrair empréstimos para sustentar sua família, ele consegiu ter alguns cartões de crédito para resolver seus problemas financeiros. No início, acreditava que logo conseguiria quitar as dívidas, mas, com a economia lenta e as poucas oportunidades de trabalho, a situação rapidamente fugiu do controle.

“Eu fiz alguns empréstimos, achando que ia pagar tudo em pouco tempo. Mas as contas continuavam chegando, a renda era pouca, e cada mês era um pesadelo. Comecei a atrasar aluguel, cartão de crédito, e até mesmo o básico, como comida, ficou difícil. Quando me dei conta, já devia mais do que conseguia imaginar”, relata.

Carlos explica que as dívidas não eram apenas um problema financeiro, mas algo que afetava todas as áreas de sua vida. “Eu me sentia envergonhado, incapaz de falar sobre isso com minha esposa ou meus parientes. Parei de sair, de ver as pessoas, e cada ligação que recebia era de um cobrador. Aquilo começou a consumir minha mente, a ponto de eu não conseguir dormir ou pensar em outra coisa. Senti que estava à beira de um colapso”.

Esse relato reflete o que muitas pessoas enfrentam em silêncio. As dívidas podem isolar a pessoa do convívio social, intensificando ainda mais o estresse e os sentimentos de desespero.

Prevenção e Busca de Ajuda

Uma das mensagens mais importantes da campanha Setembro Amarelo é a necessidade de falar sobre os sentimentos e buscar ajuda antes que os pensamentos suicidas se tornem uma realidade. O estigma em torno da saúde mental, assim como a vergonha de estar endividado, pode dificultar essa busca por ajuda, mas é fundamental entender que não há vergonha em pedir apoio.

A psicóloga Camila Mendes reforça que, em muitos casos, a simples possibilidade de conversar sobre o problema já pode trazer um alívio significativo. “Muitas pessoas que chegam ao consultório estão no limite de suas forças. Elas sentem que não têm mais saída, mas ao começarem a falar, aos poucos, vão percebendo que há caminhos. Seja um planejamento financeiro com ajuda de um profissional, seja o apoio psicológico para lidar com as emoções. O importante é não se isolar”.

Ela também alerta sobre a importância de reconhecer os sinais de uma crise iminente. “A pessoa começa a ter mudanças de comportamento, como isolamento, perda de interesse em atividades que antes gostava, irritabilidade, insônia ou o contrário, dormir o tempo todo. Esses são sinais de alerta de que algo não está bem. Nesses momentos, é essencial que amigos e familiares estejam atentos e incentivem a busca por ajuda”, destaca a especialista.

A Responsabilidade da Sociedade A RESPONSABILIDADE É DE TODOS!

Se o indivíduo tem um papel importante na busca por ajuda, a sociedade também tem sua responsabilidade na prevenção do suicídio. O aumento do endividamento, principalmente entre as classes mais vulneráveis, não pode ser ignorado pelas autoridades. Políticas públicas de apoio financeiro e psicológico são essenciais para prevenir que a população mais afetada pelas crises econômicas caia em um ciclo de desespero.

Além disso, é preciso haver uma rede de proteção social que facilite o acesso a serviços de saúde mental e programas de educação financeira. Muitas vezes, o problema das dívidas é agravado pela falta de conhecimento sobre como organizar as finanças. Carlos, por exemplo, menciona que só depois de entrar em contato com um programa de renegociação de dívidas oferecido por uma instituição financeira, começou a ver uma luz no fim do túnel. “Eu não sabia como lidar com o que estava acontecendo, só pensava que estava perdido. Mas, quando encontrei alguém que me ajudou a organizar as contas e renegociar, comecei a respirar um pouco melhor”, conta.

Caminhos para Superar a Crise

O Setembro Amarelo nos lembra que o suicídio é um problema complexo, com múltiplas causas, e que a prevenção requer a atuação conjunta de indivíduos, famílias e sociedade. No caso das dívidas, é fundamental que as pessoas saibam que existem alternativas e que o desespero financeiro pode ser temporário.

A psicóloga Camila Mendes sugere algumas práticas que podem ajudar a aliviar a pressão do endividamento, como:

  1. Buscar suporte emocional: Conversar com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental pode fazer toda a diferença.
  2. Organizar as finanças: Mesmo que a situação pareça impossível, estabelecer um planejamento financeiro e buscar renegociações pode trazer mais clareza e controle sobre a situação.
  3. Cuidar da saúde mental: Não negligenciar os sinais de alerta e buscar ajuda profissional é fundamental para evitar que o problema se agrave.
  4. Evitar o isolamento: Manter-se conectado com outras pessoas, seja para desabafar ou pedir conselhos, é essencial.

A campanha Setembro Amarelo busca salvar vidas e promover o diálogo sobre um tema que, muitas vezes, é tratado com silêncio e tabu. Quando o peso das dívidas ameaça a saúde mental, é crucial que haja apoio e compreensão. Buscar ajuda é o primeiro passo para encontrar uma solução e evitar que o sofrimento leve a consequências irreversíveis.

Sobre Libia López

Jornalismo-Repórter News working in Brasil.Jornalista e Fotógrafa comprometida em narrar histórias autênticas e impactantes, contribuindo para o diálogo cultural e social em contextos diversos. Agradecemos publicamente aos parceiros que contribuem na divulgação das matérias deste sitio. https://libialopezcomunica.webnode.page/ l.

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