Prédios sem luz na cidade de Caracas, na Venezuela, no início da manhã de 30 de agosto de 2024, por conta de um apagão nacional. — Foto: Ariana Cubillos/ AP
A Venezuela amanheceu sem luz nesta sexta-feira (30) por conta de um apagão nacional que o governo disse ser sabotagem. A queda de energia ocorreu no mesmo dia em que o candidato opositor Edmundo González pode enfrentar um mandado de prisão.
González, que diz ter vencido as eleições, foi convocado a prestar depoimento nesta sexta e, caso não compareça, como fez em outras duas audiências às quais foi convocado no último mês, será alvo de um mandado de prisão, segundo o Ministério Público da Venezuela.
Também nesta sexta, a cidade de Caracas amanheceu sem energia. O Ministério das Comunicações do país afirmou que a falta de luz atingiu total ou parcialmente todos os estados venezuelanos e também afetou refinarias da estatal de petróleo PDVSA.
Houve relatos também de que a internet caiu em diversos pontos do país, inclusive Caracas. O apagão seguia até a última atualização desta reportagem, mas o ministro do Interior, Diosdado Cabello, afirmou que a energia seria retomada ao longo da sexta-feira, começando pela capital venezuelana.
Apagão nacional e queda de internet atinge Venezuela
Em 2019, a Venezuela sofreu três apagões nacionais, um deles com duração de três dias, que as autoridades atribuíram também a ataques a linhas de energia por sabotadores e opositores do governo do presidente do país, Nicolás Maduro.
O ministro das Comunicações, Freddy Nañez, afirmou ter sido um ataque da oposição. "Nós fomos vítimas, mais uma vez, da sabotagem elétrica", declarou o ministro.
A oposição ainda não havia se manifestado sobre o apagão até a última atualização desta reportagem.
Audiência de González
Intimação do Ministério Público da Venezuela a Eduardo González, a terceira desde as eleições no país, em 29 de agosto de 2024. — Foto: Divulgação/ MP Venezuela
A convocação de Edmundo González, como as duas anteriores, não especifica em que qualidade foi convocado: acusado, testemunha ou especialista, como exigido pela lei venezuelana.
Edmundo González afirma que venceu as eleições e diz ter provas. Já o presidente do país, Nicolás Maduro, foi proclamado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE, que equivale à Justiça Eleitoral da Venezuela), acusado de trabalhar a favor do chavismo.
A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas de votação, que mostram sua vitória, o que é o foco da convocação: "Usurpação de funções" e "falsificação de documento público" do CNE, crimes que em tese podem resultar na pena máxima de 30 anos de prisão.
A terceira intimação alerta que "não comparecer diante deste órgão na data indicada será considerado" como "risco de fuga" e "risco de obstrução (...) e, portanto, será solicitado o correspondente mandado de prisão".
A líder opositora María Corina Machado antecipou que "obviamente não irá comparecer". "Do que estamos falando?", questionou em uma coletiva de imprensa com a mídia espanhola.
González Urrutia ainda não se pronunciou, mas já chamou o procurador-geral, Tarek William Saab, de "acusador político" que o submeteria a um processo "sem garantias de independência e do devido processo".
A opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) denunciou uma "perseguição política" e negou que a publicação das atas no site estivesse sob responsabilidade de González Urrutia. Além disso, "digitalizar e proteger as atas de apuração que por direito nos pertencem não é um crime", acrescentou.
Juristas classificaram o procedimento como irregular.
Esta não é a única investigação contra González Urrutia, que está na clandestinidade desde 30 de julho, quando apareceu pela última vez em público. Desde então, comunica-se apenas pelas redes sociais.
O MP também anunciou uma investigação por "incitação à insurreição" militar, que também inclui Corina Machado.
A investigação por "usurpação de funções" foi determinada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), após validar a reeleição de Maduro em um processo que o opositor se recusou a participar e que terminou com uma declaração de desacato.
O CNE não publicou o detalhamento da contagem mesa por mesa como exige a lei.
Maduro pediu prisão para González e Machado, a quem também culpa pelos atos de violência nos protestos pós-eleições que deixaram 27 mortos - dois deles militares -, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, uma centena deles menores, dos quais 16 foram colocados em liberdade condicional na quinta-feira.
González participou por videoconferência de uma reunião com ministros das Relações Exteriores da União Europeia na quinta-feira para apresentar a situação do país. O discurso não foi público.
Em referência a Maduro, o alto representante do bloco, Josep Borrell, disse que "a vitória eleitoral que ele proclama não foi provada".
"E como não foi provada, não temos por que acreditar nela. E se não acredito que ele ganhou as eleições, não posso reconhecer a legitimidade democrática que as eleições conferem", acrescentou.
'Transição negociada'
Nicolás Maduro e Edmundo González — Foto: Federico PARRA/AFP
Os Estados Unidos e vários países da América Latina também não reconhecem a vitória de Maduro, que reforçou seu gabinete com Diosdado Cabello, da ala mais dura do chavismo, no cargo de ministro do Interior.
O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, escreveu no X que "a manipulação, repressão e censura não mudam o resultado da eleição na Venezuela. Um mês depois, o resultado é claro: Edmundo González obteve a maioria dos votos".
"Não nos importamos com os seus comentários", respondeu o chanceler venezuelano, Yván Gil, a Borrell. Em seguida, ele escreveu para Miller: "Não devemos explicações a nenhuma instância estrangeira, muito menos ao império hostil que maneja um fantoche fascista".
Corina Machado insistiu na necessidade de uma "transição negociada", mas destacou que "o regime ainda não dá sinais de que estão dispostos".
"À medida que cresce a pressão interna e externa, no entanto, chegará ao ponto em que Maduro compreenderá que é sua melhor opção", insistiu.
CREDITOS https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/08/30/candidato-de-oposicao-venezuelano-enfrenta-o-risco-de-prisao.ghtml
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