O Êxodo Silencioso e uma realidade que ninguém quer falar, dos Menores Abandonados pela Migração de Seus Pais
A crise econômica e política que assola a Venezuela nos últimos anos tem gerado um êxodo massivo de sua população, buscando melhores condições de vida em outros países. Um dos aspectos mais dolorosos e menos discutidos dessa migração em massa é o impacto sobre as crianças e adolescentes que são deixados para trás. Estima-se que quase um milhão de menores de idade estão vivendo sem seus pais, sob os cuidados de parentes, amigos ou até sozinhos. E sem o desejo de provocar incomodos, o importante é explorar as causas, promessas não cumpridas, a problemática social e legal, e os desafios enfrentados por esses jovens em um contexto de abandono involuntário.
Motivos dos Pais para Deixar seus Filhos
Quase ninguém entende que a migração venezuelana é impulsionada por uma busca desesperada por trabalho, alimentos, medicamentos e melhores condições de vida, É UMA DECISSÃO FORÇADA. A crise econômica tem resultado em hiperinflação, a impossibilidade de obter produtos básicos e serviços de saúde deficientes, tornando insustentável para muitas famílias permanecer no país. Para muitos pais, partir é visto como a única solução para garantir a sobrevivência e o bem-estar de suas famílias. No entanto, devido à precariedade das travessias e a incerteza sobre sua situação em países estrangeiros, muitos optam por deixar seus filhos sob os cuidados de familiares ou amigos, acreditando que estarão mais seguros e terão uma chance melhor de futuro.
As Promessas Deixadas
Antes de partir, os pais frequentemente fazem promessas aos seus filhos, assegurando-lhes que a separação é temporária e que irão enviar dinheiro para suprir suas necessidades ou que voltarão assim que possível. Essas promessas, apesar de bem-intencionadas, muitas vezes não se cumprem devido às dificuldades enfrentadas no exterior. Em Roraima, estado fronteriço atualmente há 7.484 migrantes abrigados nos espaços geridos pela operação Acolhida. O problema é que para que consigam vagas nos abrigos, os migrantes precisam passar por algumas etapas e sendo uma tarefa complexa, muitos ficam na rúa.
Com respeito a ese tema, a Prof. Marcia Oliveira especialista em migração internacional da Universidade Federal de Roraima afirma que a problemática dos migrantes na rúa não é o projeto de vida de nenhum migrante: ‘’Ninguém sai, deixa sua casa, o seu conforto no seu país de origem pra morar na rúa. Isso não é um projeto. Morar nas ruas é uma situação extrema que faz com que a pessoa chegue a essa situação. A rúa nega qualquer dignidade, qualquer direito humano, de qualquer pessoa. Não só do migrante, mas de qualquer pessoa. A rua é o extremo, é o extremo da ausência de perspectivas, a ausência de dignidade, de possibilidades, de vivência, de existência de uma pessoa. É aquela pessoa que não tem realmente para onde ir. E ela vai mesmo com esse tempo de chuva terrível, ela vai persistir nas ruas. Muita gente pergunta, não tem uns abrigos aí? Primeiro, o abrigo não abriga todo mundo. O abrigo tem limites de vaga, e não é toda pessoa que consegue viver no abrigo. Prova disso, é que você vai encontrar muitas pessoas em situação de rúa, que já estiveram em abrigo e não conseguiram. O abrigo não pode ser considerado politica migratória. O abrigo é emergência.’’
A realidade da migração é dura: um lar onde morar, a barreira da língua, falta de emprego, ou trabalhos precários, a xenofobia, remuneração baixa e, muitas vezes, condições de vida ainda mais difíceis do que aquelas deixadas para trás. Essas circunstâncias fazem com que o envio de remessas seja irregular e insuficiente, aprofundando o sentimento de abandono e a insegurança entre os jovens. Esso sem mencionar as consequências emocionais e mentais que tem sobre o migrante, trazendo ansiedade, desespero e depressão.
A Tutoria Legal e a Falta de Proteção
Em muitos casos, os menores ficam sob os cuidados de avós, tios ou outros parentes. Contudo, a assinatura de tutoria legal, que é essencial para assegurar os direitos e a proteção dessas crianças, nem sempre é realizada. O processo para formalizar a tutoria envolve procedimentos costosos na Venezuela que muitos cuidadores, especialmente aqueles em situações de vulnerabilidade, não conseguem completar. Em alguns casos sem um tutor legal, esses menores enfrentam barreiras adicionais para acessar serviços de saúde, educação e outros direitos básicos.
Problemática Social e Emocional
Os efeitos da ausência parental são profundos e multifacetados. Psicólogos e assistentes sociais apontam um aumento significativo em problemas de saúde mental entre esses jovens, incluindo ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. As crianças e adolescentes frequentemente sentem uma profunda sensação de abandono, que pode se manifestar em comportamentos agressivos ou rebeldes. Além disso, a ausência de uma figura parental estável aumenta a vulnerabilidade desses jovens a abusos, exploração laboral e, em casos extremos, ao recrutamento por grupos armados ou envolvimento em atividades criminosas.
Aspectos Legais e Direitos das Crianças
A legislação venezuelana, incluindo a Lei Orgânica para a Proteção de Meninos, Meninas e Adolescentes (LOPNNA), estabelece que toda criança tem o direito a ser cuidada e protegida. No entanto, na prática, a implementação dessas leis enfrenta desafios significativos. A ausência de um sistema eficiente para garantir a tutela legal e a proteção dos menores migrantes é um problema crítico. Organizações como Cecodap têm destacado a necessidade de políticas públicas mais eficazes e de um maior apoio institucional para atender a essa população vulnerável. Segundo dados da Cecodap e de outras organizações, aproximadamente um milhão de crianças ficaram sob os cuidados de familiares ou amigos devido à migração de seus pais. As estatísticas refletem que um em cada cinco migrantes venezuelanos deixa um filho para trás, o que criou uma geração de menores que enfrentam desafios significativos em seu desenvolvimento e bem-estar emocional.
Impacto na Educação
Sem a presença dos pais e, frequentemente, sem tutores legais adequados, muitos jovens venezuelanos veem sua educação interrompida. A falta de recursos financeiros leva muitos a abandonar a escola para trabalhar e ajudar no sustento da família. Aqueles que permanecem na escola enfrentam desafios adicionais, como a falta de materiais escolares e a necessidade de conciliar estudos com responsabilidades domésticas.
A Resposta da Sociedade e das Organizações
Organizações não governamentais e grupos comunitários têm tentado preencher o vazio deixado pelo Estado, oferecendo apoio psicológico, programas de reforço escolar e até alimentos para esses menores. No entanto, os recursos são limitados e a demanda é alta. Há um consenso crescente sobre a necessidade de uma resposta mais robusta por parte do governo e da comunidade internacional para lidar com as consequências humanitárias dessa crise migratória. E sobre a política do Estado, eu não vou falar sobre isso, tudo mundo sabe a situação difícil.
Um Futuro Incerto
A geração de crianças e adolescentes deixados na Venezuela representa um desafio significativo para o futuro do país. Sem intervenções adequadas, o potencial humano desses jovens pode ser irremediavelmente comprometido, afetando não apenas suas vidas pessoais, mas também a capacidade do país de se reconstruir e prosperar no futuro.
A migração forçada de pais venezuelanos em busca de melhores condições de vida está criando uma geração de crianças e adolescentes que enfrentam enormes desafios sociais, emocionais e legais. A situação desses menores, deixados para trás sem um suporte adequado, requer uma atenção urgente e soluções eficazes que garantam sua proteção e desenvolvimento integral. Políticas públicas mais eficazes, apoio institucional robusto e a sensibilização da sociedade são essenciais para mitigar os efeitos dessa crise e assegurar um futuro melhor para esses jovens.
Apelo à Ação
É imperativo que as autoridades venezuelanas, em conjunto com organizações internacionais e a sociedade civil, desenvolvam e implementem estratégias abrangentes para abordar esta questão. Garantir a assinatura de tutoria legal para todos os menores, proporcionar apoio psicológico a família toda e educacional adequado, e criar mecanismos eficazes para a reunificação familiar são passos cruciais para proteger e apoiar essa população vulnerável. Somente através de um esforço conjunto e sustentado será possível garantir que as crianças e adolescentes deixados na Venezuela tenham a oportunidade de crescer em um ambiente seguro e saudável, com perspectivas reais de um futuro melhor.
Libia López, Corresponsal para o Centro Mundial de Noticias NOTICIAS #BRASIL e para radioestrelinha.com.br e cubaherald.org
Artigo original: https://www.linkedin.com/pulse/crian%25C3%25A7as-e-adolescentes-deixados-na-venezuela-uma-gera%25C3%25A7%25C3%25A3o-libia-l%25C3%25B3pez-q5ivf/
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